quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A LAICIDADE DO ESTADO E O LEGÍTIMO PROJETO DE PODER DOS EVANGÉLICOS




        
         1)    O Estado não é laico e dificilmente será;

         2)    O projeto de poder político trilhado pelas igrejas evangélicas é legítimo;



Por mais que a Constituição Federal informe que o Brasil é um Estado laico, ou neutro quanto às questões religiosas,[1] na prática não é isso o que temos.

A interferência da religião católica na formação do estado Brasileiro é indiscutível. Qualquer dúvida basta observar os inúmeros feriados religiosos nacionais, todos eles diretamente ligados à crença cristã/católica: Quarta Feira de Cinzas, Sexta Feira Santa, Corpus Christi, Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil), Finados e Natal.

Vejam, que dos 11 feriados nacionais, 6 referem-se às crenças católicas. Se realmente fossemos um país laico, com neutralidade religiosa, não haveria feriado nacional com qualquer ligação à crença religiosa.

Por ser algo tão incorporado à cultura brasileira, essa correlação acaba passando despercebida pela maioria da população, até mesmo quem não comunga das tradições católicas e cristãs.

Imaginem feriado nacional em homenagem a Chico Xavier, Mãe Minininha do Gantois, Zumbi dos Palmares etc, legítimo, não?

A segunda afirmativa – O projeto de poder político trilhado pelas igrejas evangélicas é legítimo – se por um lado causa desconforto, por outro evidencia um embate entre os dois maiores seguimentos religiosos nacionais, não por busca de fiéis, mas por poder.

O movimento realizado ao longo de décadas pela igreja católica, em firmar território nos "cantinhos" de Brasília, resultou no predomínio de seus postulados na agenda e legislação nacional.

O que os evangélicos vêm buscando, há algum tempo, é encurtar essa distância e impor algumas de suas ideologias nos espaços públicos brasileiros.

Podemos concordar que seja um movimento equívoco, retrógrado, mas não temos como discordar que seja legítimo, já que a igreja católica fez esse mesmo movimento, ainda que de forma mais velada.

Hoje é mais comum termos pastores evangélicos, do que padres envolvidos na política. As estratégias de poder são diferentes, pois enquanto aqueles preferiam o lobby e o anonimato, estes se expõe mais e buscam, pelo sufrágio, o acesso aos “cantinhos” de Brasília. 

O retrocesso não bate à porta, a arromba!



[1] Artigo 5º (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;